II Sarau de etnografias: artes de falar, ouvir e escrever

II Sarau de Etnografias: artes de ouvir, falar e escrever

Evento

https://www.youtube.com/watch?v=_OLHIZG5wYg

: YouTube: UFG Oficial

: 07 Diciembre 2020, 08h - 11h

: nucleocaroa@gmail.com

II Sarau de etnografias: artes de falar, ouvir e escrever

O evento foi transmitido pelo YouTube UFG Oficial, no dia 7/12/2020, segunda-feira, a partir das 8h.

 

O “Sarau de Etnografias: artes de ouvir, falar e escrever” é um ambiente de conversa sobre confecções etnográficas na Antropologia e para intervenções artísticas. Apresentam-se no Sarau estudantes da graduação em Ciências Sociais e estudantes do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS). O evento recupera as tradições orais, como a contação de histórias, para difundir a etnografia como gênero narrativo, enfatizando seu aspecto artesanal e estético. É uma oportunidade para que alunes, principalmente caloures, tenham contato com as experiências do processo etnográfico em seus diversos momentos de feitura. Essa é a segunda edição do evento, agora em modelo virtual.

 

PROGRAMAÇÃO: 


*Em breve com legendas.

 

1. A química do prazer e do perigo: um texto sobre a pegação on-line entre homens - Eládio Fernandes de Carvalho Junior

Foto Eládio Fernandes“A diferença entre a droga e o remédio está na dose.” Com esse velho ditado inicio meu pequeno texto fazendo o questionamento: quando uma medicação se torna droga? Através do relato de um interlocutor que aprimora seus desejos sexuais com uso das chamadas “drogas recreativas” ou “club drugs” traço um perfil da dicotomia entre o que é lícito e ilícito e todo aparato envolvendo o controle dos corpos pelo uso de moléculas químicas que modelam e alteram sua fisiologia, o que Paul Preciado (2013), nomeia como “farmacopornografia”. Assim um mundo de símbolos internéticos os chamados “emojies” surgem na pegação “on-line” entre homens e se mostra plena na “microfísica do detalhe” (PERLONGUER, 2008), e na busca de parceiros que estão dispostos a borrar dada vez mais as fronteiras entre o “prazer e o perigo” (VANCE 1984). 🐟🍁✨⚡🔥🌋💥
Palavras chaves: farmacopornografia; prazer; perigo e drogas recreativas.

 

 

2. “O CIRCO COMO MUDANÇA DE TRAJETO: Da periferia, para a lona e para a cidade - Yasmim Stella Domingues Marcucci

 

Foto Yasmim StellaA cidade não é democrática, visto que o espaço urbano é segregado por diferenças de classes, gêneros, etnias, etc. As fronteiras - ainda que simbólicas - se estabelecem em articulação aos grupos sociais presentes e suas peculiaridades. Grupos sociais perdem o direito de frequentar certos espaços. As consequências deste processo são negativas e violentas, reforçando as desigualdades sociais intrínsecas a realidade dos indivíduos. A partir desta visão, a pesquisa teve como objetivo analisar os desdobramentos do projeto social Arte, Circo e Cidadania da ONG Circo Laheto na cidade de Goiânia, ou seja, investigar as maneiras como a transgressão do urbano acontece através da proposta que o projeto social apresenta e executa. A ONG tem como metodologia usar a arte educação para promover a inclusão social de crianças e adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social e à margem da cidade. Buscou-se compreender como o Circo Laheto constrói e significa espaços para realizar processos de transformação social, bem como desvelar as tensões e conflitos implicados neste processo. Estimulou-se, assim, uma reflexão sobre os modos de se obter uma cidade mais democrática. Através da etnografia - realizada entre 2017 e 2018 - aliada às bases teóricas da antropologia urbana, pensou-se nas bases de sociabilidade que existem e coexistem entre o público atendido pelo Circo Laheto e a cidade, com as categorias exploradas por Magnani. Foi analisado, principalmente, os trajetos que cada criança e adolescente possui quando chegam (e na situação em que chegam) no espaço de transgressão, e como estes trajetos são transformados ao longo da estadia no projeto social. Assim como os pedaços nos quais pertencem são mudados. Constatou-se mobilidade urbana, no quesito dos níveis de escolaridade e a perspectiva pessoal futura das crianças e adolescentes, mas as fronteiras simbólicas entre os espaços que havia antes do circo ainda continuam de maneira implícita. Conclui-se que o acesso na cidade que cada criança e adolescente em situações de marginalidade não só se resolve em deslocá-las no espaço da cidade, mas é necessário pensar a legitimidade de sua presença e o pertencimento.

Palavras-chave: circo; corpo; cidade.

 

 

3. “A prática oral e a escrita dos saberes da ayahuasca: reflexões em uma pesquisa bibliográfica sobre o chá enteógeno - Felipe Lira de Oliveira

 

Foto Felipe LiraAo início da pesquisa bibliográfica sobre diferentes consumos de ayahuasca no Brasil, me deparo com diversos materiais escritos sobre a bebida, escritos que datam do final dos anos 70 até a última década (ANTUNES, 2011). Neste caminho encontro etnografias, histórias, experiências e afetos. Sendo assim, tenho contato com diversas perspectivas acerca do meu objeto as quais estão perpassadas por múltiplas temporalidades, o que enseja que a produção desse material seja colocada em cheque em prol de sua própria interpretação através de marcas e inscrições que permitem tal abordagem (CUNHA, 2004).

Ao dialogar com a produção sobre os grupos que estou observando me questiono se existe algum tipo de inferência no modo como o conhecimento oral que permeia a maioria dos saberes abordados são descritos de forma escrita nas etnografias. Como descrever a percepção de uma experiência já descrita e codificada nos documentos que estou lendo? Quais são as perdas e os privilégios nessa relação? 

Palavras-chave: produção escrita; oralidade; ayahuasca.

 

 

4. “Cura e cuidado: percepções de alunxs do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás - Pamela Morgana Dias Bueno

 

Foto Pamela MorganaEntender como os alunxs do curso de enfermagem, em diversos momentos dentro da formação, na disciplina de Antropologia da Saúde, apreendem sobre questões relacionadas às concepções de cura e cuidado, percebendo de que forma os mesmos conjugam ou confrontam uma multiplicidade de conhecimentos e práticas, científicas e não-científicas dentro de sua formação. As performances de cuidado dentro da enfermagem e sua ligação forte com o feminino.

Esta apresentação é parte do trabalho de iniciação científica iniciada no ano de 2020, que primeiramente foi pensada para a realização da pesquisa em campo e que devido à pandemia pelo Covid-19 teve que se ajustar e ocorrer de forma "remota". Assim a pesquisadora se colocou como xs outrxs alunxs da disciplina e acompanhou as atividades desenvolvidas na disciplina de forma on-line.

Palavras-chave: CURA; CUIDADO; ENFERMAGEM; PRÁTICAS DE CUIDADO; PRÁTICAS DE CURA.

 

5. “Por uma etnografia visual encantada da Ilha dos Lençóis, Maranhão - Marcelo Henrique Ribeiro Borges

 

Foto Marcelo HenriqueMorraria Encantada, Ilha dos Lençóis, MA, fotografia de Marcelo, janeiro de 2017.

Morraria Encantada, Ilha dos Lençóis, MA. Acervo pessoal, janeiro de 2017.

Palavras-chave: Religiosidades afro-ameríndias; Encantarias de Linhas Cruzadas; Morrarias; Boi Turino; Rei Sebastião.

 

6. Apresentação artística: João Marcos Aguiar Almeida lê poema "Canção da Roda Hidráulica", de Bertolt Brecht

 

7. Apresentação artística: Carolina Simões Santos canta "Banho de folhas", de Luedji Luna

 

8. “Cosmopolítica como antídoto à tolerância do currículo: pensando o Antropoceno nas aulas de sociologia para o 9º ano - Isabella Gonzaga Guimarães Silva

 

Foto Isabella Guimarães

Trata-se de uma pesquisa que investigou as potências do ensino de sociologia para a educação básica frente o empobrecimento eco-ontológico do Mundo ocasionado pela profunda crise ecológica que marca a era geológica denominada Antropoceno. Traçando diálogos, sobretudo, com antropólogas/os e filósofas/os que estão fazendo o movimento de barrar fronteiras epistêmicas e fazendo proposições teóricas em torno desta nova era, a pesquisa dedicou-se em um primeiro momento a entender quais eram as bases ontológicas e filosóficas por trás de uma Era que carrega consigo uma referência à Humanidade. Para posteriormente entender como as aulas de sociologia podem ser temporalidades para a criação de uma resistência aos arranjos onto-filosóficos do Antropoceno. Portanto, foi necessário entender quais eram os discursos e lógicas que sustentam o ensino de sociologia para a educação básica, o que culminou na pesquisa em três documentos que fundamentam as diretrizes, o currículo e as expectativas para o ensino de sociologia em contexto de ensino básico. A conclusão qual se chegou após a análise dos documentos foi a de que a sociologia no nível básico é sustentada pela lógica da racionalidade científica da modernidade, a realidade na qual se ampara o ensino de sociologia é aquela das dicotomias estatizantes natureza/política, crença/razão, natureza/cultura. O que além de inviabilizar a discussão sobre o Antropoceno e a crise ecológica, corrobora com suas bases de sustentação. Assim, diante de um exercício de imaginar criatividades capazes de estabelecer no âmbito das aulas de sociologias antídotos ao Antropoceno, optou-se em fazer das aulas de sociologia um espaço-tempo de experimentação cosmopolítica. Na posição de professora, experimentei com uma turma de 9º ano entender o problema da catástrofe ecológica a partir dos mundos e conhecimentos indígenas. Em um movimento de composição com esse fora desqualificado pela política e pela hierarquização científica de saberes, e de hesitação diante de nossos conhecimentos e da nossa forma de conhecer. Permitindo criar movimentos não-hierárquicos de relação com conhecimentos e sabedorias que postulam outras maneiras de habitar a Terra. Propiciando uma arena política de encontro entre mundos divergentes, a experimentação atuou como suscitadora de novas sensibilidades ecológicas e ambientais entre os discentes. Além de uma investigação sobre o que pode a sociologia, em contexto da educação básica diante do Antropoceno, a pesquisa que aqui se fala é também sobre possibilidades metodológicas para pesquisas realizadas dentro das salas de aula. 

Palavras-chaves: antropoceno; cosmopolítica; aulas; sociologia.

 

 

9. “Humanes na UFG e suas observações sobre os macacos-prego e os cães do campus Samambaia” - Fernanda Gonçalves Franco

Foto Fernanda Gonf

Conhecer a Universidade Federal de Goiás traz uma experiência inusitada: a descoberta das vivências de macacos-prego em um de seus maiores campus, localizado na cidade de Goiânia, o Samambaia. Rotineiramente, esse convívio inesperado é discutido em conversas, em redes sociais e até mesmo pelos canais de comunicação da UFG. Cachorros também são outres que carregam vivências pelo campus e que chamam a atenção humana. Elus têm apelidos disputados, aparecem em jornais e até recebem indicações para concorrerem ao cargo de reitoria da Universidade.

Essa apresentação faz parte de uma iniciação científica em andamento que tem como tema as teias de relacionamento ocorrentes entre essas três espécies e o campus da UFG. O enfoque, no Sarau, será para as percepções humanas, pois é inegável que essas relações alteram, em maior ou menor modo, o cotidiano daquelus que trafegam pelo campus. Assim, além das discussões teóricas no campo dos estudos multiespécies e da antropologia em geral, a pesquisadora trará discussões a partir do que humanes entrevistades até o momento falaram sobre suas experiências interespecíficas e aquilo que é discutido nas redes sociais.

Palavras-chave: estudos multiespécies; relações entre animais; antropologia; UFG; campus Samambaia.

 

 

10. A influência do astro lunar sobre a terra, na ótica das comunidades rurais de Calvacante com Minaçu - Estudo sobre um mundo que se estende para além da gente” - Gustavo Henrique Tavares Alves

 

Foto Gustavo Henrique

A zona rural onde se desenvolve este estudo está localizada entre os municípios de Cavalcante e Minaçu, Goiás. Uma região populada por agricultores quilombolas e não quilombolas. No que diz respeito à produção e à conservação de alimentos e insumos, respondem em sua maioria a uma matriz ecológica manejada por atenciosas experienciações da passagem lunar, que é articulada através da mediação entre ressalvas e observações de experiências passadas. O ato de dirigir ações mediante a compreensão acerca da governança lunar se expressa como uma forma sagaz em operar com forças transcendentais das quais não exercermos qualquer domínio direto.  

Palavras-chave: ecologia; ressalvas; experienciações; governança.

 

 

11. “‘Ser educador é nos encontrar uns nos outros’: uma etnografia sobre o racismo educacional e educação antirracista na comunidade de Extrema (Iaciara-GO) - Márcia Sacramento Rocha

 

Foto Márcia Rocha

O presente estudo, de cunho qualitativo, busca compreender a existência de tantas barreiras na implantação  de políticas públicas educacionais para o desenvolvimento de nosso modelo próprio de educação Quilombola, mesmo lutando e resistindo. Sendo assim, na base desta proposta de investigação, temos a evidente prática de exclusão e de racismo via cor da pele, privando nós, Quilombolas, de expressarmos nossos saberes, de atuarmos enquanto produtores de saberes e de fazermos ciência partindo desses saberes, excluindo-nos, usando como arma, uma falsa inclusão. Diante do exposto, inquieta-nos compreender: como são estruturadas e pensadas as propostas de educação para nós, Quilombolas da Extrema? Quem são os sujeitos que pensam tais propostas? As nossas necessidades educacionais estão sendo levadas em consideração nesse processo? Desse modo, como objetivo geral tentaremos compreender e analisar, de forma minuciosa, todo nosso processo educacional, as práticas pedagógicas desenvolvidas na produção e valorização dos saberes junto aos nossos, tomando como base, nossa concepção Quilombola sobre o que é educação, o que é conhecimento, o que é aprender e o que é ensinar. Ademais, vejo na pesquisa e no trabalho científico, só que dessa vez como sujeito da nossa pesquisa e não mais como objetos,  uma possibilidade de conseguir compreender todo esse processo de racismo, sobretudo, do racismo educacional, que é um dos grandes produtores de desigualdades e violadores de nossos direitos.

Palavras-chave: Comunidade Quilombola; Racismo educacional; Educação antirracista; Etnografia.

 

 

12. “Emoções e Sociabilidade Urbana: Reflexões sobre o fazer etnográfico de uma pesquisa em uma comunidade periférica da cidade de João Pessoa-PB - Williane Juvêncio Pontes

 

Foto Williane Pontes

A etnografia é uma construção teórico-metodológica importante na produção de conhecimento antropológico, fomenta construções dinâmicas, complexas e tensas de pesquisa e contribui para uma capacidade de compreensão teórica e metodológica. É sobre o fazer etnográfico que esta exposição busca refletir, com base na pesquisa de mestrado desenvolvida na Comunidade do Timbó, localizada na cidade de João Pessoa-Paraíba. A pesquisa objetivou compreender a sociabilidade que caracteriza o viver no Timbó, de modo a identificar a cultura emotiva e os códigos de moralidades que constituem a experiência do morador e conformam a comunidade como lugar de pertença e pessoalidade, onde os vínculos afetivos estreitos e duradouros são exercitados cotidianamente. O desenvolvimento da pesquisa apoiou-se em estratégias metodológicas e no arcabouço teórico da Antropologia Urbana e da Antropologia das Emoções, que contribuiu para a construção de um fazer etnográfico preocupado em refletir sobre o sentimento de pertença, a intensa pessoalidade, os códigos de moralidades e os marcadores sociais de diferenciação e dessemelhança. Neste sentido, a proposta é refletir e dialogar sobre a experiência de pesquisa, sensível às questões e os processos que envolve o fazer etnográfico, com ênfase para a discussão das estratégias teórico-metodológicas no trabalho de campo. 

Palavras-chave: Fazer etnográfico; Comunidade do Timbó; Antropologia Urbana; Antropologia das Emoções. 

 

 

O II Sarau de etnografias foi organizado por integrantes do CAROÁ e recebeu a colaboração das estudantes Carolina Simões Santos, Maria Clara Florêncio de Paula e Renata Torres de Sousa.

 

Apresentação:

Suzane de Alencar Vieira é antropóloga, mãe, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Goiás, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (UFG). Como pesquisadora, atua nas áreas de antropologia das populações afro-brasileiras, antropologia política e antropologia da ciência. Coordena o núcleo de pesquisa CAROÁ (Coletivo de Antropologia das Resistências e Ontologias Ambientais). É autora do livro Césio-137, drama azul: irradiação em narrativas (Cânone, 2014).

 

Mediação:

Emília Guimarães Mota é aluna do curso de doutorado no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social na UFG. Compõe o núcleo CAROÁ e pesquisa temas diversos, desde o mestrado, relacionados às religiões de matriz africana, como racismo religioso, convivialidade, práticas de cuidado e sobre a vida dos espíritos.

 

Agradecimentos à gestão do canal UFG Oficial:

Pablo Lisboa (Coordenador Reitoria Digital UFG)

Wesley Menezes (Gerente de lives do Youtube UFG Oficial)

 

Apoio:

Reitoria Digital - UFG

Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS - UFG)

Faculdade de Ciências Sociais (FCS - UFG)

Universidade Federal de Goiás (UFG)